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Jorge Martins

O batismo forçado dos judeus na "Crónica de D. Manuel", de Damião de Góis

CAPÍTULO XX.

De como el Rei mandou tomar os filhos aos Judeus, que se iam fora do Reino, & por que causa não fez o mesmo aos mouros.

(1ª parte)


Muitos dos Judeus naturais do Reino, & dos que entraram de Castela tomaram a água do baptismo, & os que se não quiseram converter começaram logo a negociar as cousas que lhes convinham para sua embarcação, no qual tempo el Rei por causas que o a isto moveram ordenou, que em um dia certo lhes tomassem a estes os filhos, & filhas de idade de XIIII anos para baixo, & se distribuíssem pelas vilas, & lugares do Reino, onde à sua própria custa mandava que os criassem, & doutrinassem na Fé de Nosso Salvador Jesus Cristo, & isto concluiu el Rei com seu conselho estando em Estremoz, & dali se veio a Évora no começo da Quaresma do ano de MCCCCXCVII, onde declarou, que o dia assinado fosse dia de Pascoela, & porque nos do conselho não houve tanto segredo, que se não soubesse o que acerca disto estava ordenado, & o dia em que havia de ser, foi necessário mandar el Rei, que esta execução se fizesse logo por todo o Reino, antes que por modos, & meios que estes Judeus poderiam ter, mandassem escondidamente os filhos fora dele, a qual obra não tão somente de grão terror, misturado com muitas lágrimas, dor, & tristeza aos Judeus, mas ainda de muito espanto, & admiração aos Cristãos, porque nenhuma criatura pode padecer, nem sofrer apartar de si forçadamente seus filhos, & nos alheios por natural comunicação sente quase o mesmo, principalmente as racionais, porque com estas comunicou natureza os efeitos de sua lei mais liberalmente do que o fez com as brutas irracionais, a qual lei forçou muitos Cristãos velhos moverem-se tanto a piedade, & misericórdia dos bramidos, choros, & prantos, que faziam os pais, & mães a quem forçadamente tomavam os filhos, que eles mesmos os escondiam em suas casas por lhos não virem arrebatar dentre as mãos, & os salvavam, com saberem que nisso faziam contra a lei, & premática [pragmática] de seu Rei, & Senhor, & aos mesmos Judeus fez usar tanta crueza esta mesma lei natural que muitos deles mataram os filhos, afogando-os, & lançando-os em poços, & rios, & por outros modos, querendo antes vê-los acabar desta maneira, que não apartá-los de si, sem esperança de os nunca mais verem, & pela mesma razão muitos deles se matavam a si mesmos (…)”

(Crónica do Felicíssimo Rei D. Emanuel, da gloriosa memória, Damião de Góis, Lisboa: Oficina De Miguel Manescal da Costa, 1749, pp.18-19)

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Quanta crueldade meu Deus, sofreu o nosso Povo, porém um dia a verdade vem a tona, obrigado professor por partilhar seu conhecimento ✡🇵🇹

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