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Vozes contra a intolerância

VOZES CONTRA A INTOLERÂNCIA

 

Desde a expulsão dos judeus, em 1496, até à extinção da Inquisição em 1821 houve vozes contra a intolerância e contra a ação inquisitorial. Na linha de pensamento de Elias Lipiner, não era forçoso que tivesse havido expulsão dos judeus e batismo forçado no ano seguinte, nem que a Inquisição tivesse existido, bastava optar pela opinião das vozes tolerantes da época, que se opuseram. A sociedade portuguesa acabaria por reconciliar-se com os judeus, condenando a sua secular perseguição, proporcionando o ressurgimento das comunidades judaicas e a fundação de novas sinagogas. Em 1773 foi extinta a distinção entre cristãos-novos e cristãos-velhos por ação do Marquês de Pombal, em 1821 foi extinta a Inquisição pelo Parlamento Liberal, em 1996 foi revogado simbolicamente o decreto de expulsão dos judeus pela Assembleia da República, em 2013-2015 foi aprovada a possibilidade de obtenção da nacionalidade portuguesa aos descendentes dos judeus expulsos e em 2020 foi definitivamente consagrado o dia 31 de março como Dia da Memória das Vítimas da Inquisição. Seguem-se alguns dessas vozes contra a intolerância, entre as quais destacamos o pioneiro pedido de perdão do Presidente da República Mário Soares pela perseguição aos judeus, em 1989 e as palavras reconciliadoras do Cardeal-patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, no ano 2000.

 

D. Fernando Coutinho, bispo de Lamego

“Podem [judeus e muçulmanos] receber o carácter mas não a essência do sacramento. Todos os intelectuais, e eu, o mais ignorante de todos, apresentei muitas autoridades e princípios jurídicos [para justificar] que não podiam ser obrigados a receber o cristianismo. Este quer e exige liberdade e não violência, e ainda que esta não tenha sido precisa, isto é, com punhais apontados ao peito, foi claramente violência.”

Contra o batismo forçado de 1497

 

 

Gil Vicente, após tremor de terra atribuído aos judeus

“Os frades de cá não se contentaram, nem em púlpito nem em prática, sobre esta tormenta da terra que passou; porque não bastava o espanto da gente, mas ainda eles lhe afirmavam duas cousas, que mais os fazia esmorecer. A primeira, que polos grandes pecados que em Portugal se faziam, a ira de Deus fizera aquilo (…) O segundo (…) foi, que quando aquele terramoto partiu, ficava já outro de caminho (…) Creu o povo nisto de feição que logo o saíram a receber por esses olivais, e ainda lá o esperam.

(…) E se alguns aí há que são ainda estrangeiros na nossa fé e se consentem, devemos imaginar que se faz ventura com tão santo zelo, que Deus é disso muito servido; e parece mais justa virtude aos servos de Deus e seus pregadores animar a estes e confessá-los e provocá-los, que escandalizá-los e corrê-los, por contentar a desvairada opinião do vulgo (…), porque à primeira pregação, os cristãos-novos desapareceram e andavam morrendo de temor da gente, e eu fiz esta diligência e logo ao sábado seguinte seguiram todolos pregadores esta minha tenção.”

Carta que Gil Vicente mandou de Santarém a El Rei D. João III, 26 de Janeiro de 1531

 

Nicolau Clenardo, professor do Cardeal D. Henrique

“Com a pregação dos Apóstolos desapareceram os ídolos, nem houve mister que eles os lançassem à fogueira, mas todo o seu empenho era imbuir na fé cristã os ânimos do povo. A ninguém expulsaram do próprio domicílio. Com que proveito expulsamos os judeus de Espanha? Para entregar ao fogo os falsos cristãos e deixar viver em África os restantes. Quanto melhor não seria tê-los conservado no estado de servidão, que no estado de liberdade ter queimado a tantos?”

“Carta a João Petit", 4/12/1540”

 

D. Jerónimo Osório, bispo de Silves

“Isto, porém, não foi feito por causa da lei nem por causa da religião. Porque assim? Serás capaz de obrigar os espíritos rebeldes e em nada ligados à religião recebida a acreditar naquilo que recusam e rejeitam com extrema energia? Poderás impedir a liberdade da vontade e pôr a ferros os espíritos desenfreados? Isto nem pode fazer-se nem é aprovado pelo poder santíssimo de Cristo. Com efeito, o sacrifício voluntário não recebido pelos homens sob coacção da força ou do mal; nem manda que se forcem as inteligências, mas que se aliciem e convidem as vontades ao estudo da verdadeira religião.”.

De Rebus Emmanuelis Lusitaniae, 1571

 

Padre António Vieira

“A heresia das outras Nações é muito mais contagiosa que o judaísmo, porque o que está mais distante pega-se menos, e como o Judaísmo não confessa a Cristo, dista mais da fé católica que a seita dos hereges. (...) Pois se a necessidade da guerra nos obriga a admitir entre nós heresias mais contagiosas, porque não admitiremos as que são menos arriscadas? (…) Quando Portugal em todas as partes está tão cheio desta gente, que importa que sejam mais alguns?”.

 “Proposta feita a el-Rei D. João IV, em que se lhe representava o miserável estado do Reino e a necessidade que tinha de admitir os judeus mercadores que andavam por diversas partes da Europa”, 1643

 

 “Em Portugal todos têm a boca fechada com mil temores e respeito da Inquisição, como porque os inquisidores não dão ouvidos a nenhum requerimento ou proposta e se fecham com a sua soberania e potência, sem admitirem alguma razão, nem de cristãos-velhos nem de cristãos-novos (…)

Todas as cousas novas se vão fazendo velhas com o tempo; aqui vemos totalmente o contrário, porque quem de uma vez teve a reputação de cristão-novo, por mais tempo que passe, todos os seus descendentes foram sempre cristãos-novos (…) e ficam cristãos-novos para sempre.”

 “Memorial a favor da gente de nação hebreia sobre o recurso que intentava em Roma (...)”, 1674

 

D. Luís da Cunha

“O sexto e último meio para se extinguir em Portugal o nome de cristão-novo, seria darem aos judeus a liberdade de viverem a sua religião, como se pratica em todas as nações da Europa (...), sem embargo de serem tão cristãos com a nossa liberdade, digo, que de duas maneiras se lhe pode acordar, dando-lhe dois guitos [guetos], um em Lisboa, outro no Porto, da mesma maneira que o têm em Roma, com a obrigação de trazer um chapéu amarelo, para serem conhecidos, de que resultaria que todos os cristãos-novos, que verdadeiramente fossem judeus, ou o poriam ou entrariam nos guitos, sem ser necessário que se lhe falasse em perdão geral, nem a Inquisição intentasse mais prender algum cristão-novo; pois é certo que não será judeu oculto, o que puder ser declarado...”

Testamento Político (...), 1747

 

 

Ribeiro Sanches

“Peço portanto a quem ler o que proponho, que deponha por um pouco o desprezo e ódio que ordinariamente se tem para esta Nação; que considere sem paixão se são ou não são súbditos do Reino de Portugal: e ultimamente peço que queiram dar fiéis à Igreja e não mártires ao Judaísmo; que queiram que se castiguem os culpados e não pereçam os inocentes; e que queiram antes dar súbditos a Portugal, que trânsfugos e inimigos a Ele”.

(…) Temos visto que depois da introdução da Inquisição e das inquirições, juntamente com os perdões gerais, que não somente não se extinguiram os Cristãos novos, mas que se aumentou muito mais o seu número, e que a distinção e diferença de Cristão novo e de Cristão velho veio mais notória e mais distinta do que fora nos princípios, logo que os filhos dos Judeus foram baptizados por força”.

(…) Os Santos Apóstolos e todos os Santos Padres da primitiva Igreja foram todos Judeus. Se hoje há X. N.s que vivem na Crença Judaica, a educação é a causa e não o Sangue, porque todo é vermelho (…)”.

Origem da denominação de Cristão-velho e Cristão-novo em Portugal, 1748

 

Cavaleiro de Oliveira (Francisco Xavier de Oliveira)

“Os judeus são traquejados, encarcerados e, de lhes confiscarem bens e fazenda, queimados sem misericórdia.

(…) Portugal só será um país próspero e progressivo quando abolir de vez o tribunal do Santo Ofício. Antes, não. Além disso, nada feito, enquanto, no mesmo lugar onde hoje se acha o Palácio da Inquisição, não puderem plantar os judeus a Sinagoga”

Amusement Periodique, 1751

 

 “Quanto ao Negócio e ao Comércio, é preciso confessar, e todos os portugueses em geral o fazem sem rodeio, que de todos os homens do mundo, os judeus são os que para isso possuem melhor espírito e os mais amplos conhecimentos e meios mais apropriados para fazê-lo florir. Mas infelizmente para eles, e para todos os vossos vassalos, assim que um judeu adquire grande experiência no Comércio, para estar em situação de o desenvolver a um grau superior de perfeição, ele é impedido pela Inquisição que o faz estrangular.

(…) Todos esses desafortunados perdem os seus bens, os seus estabelecimentos, a sua reputação e todo o seu crédito, por consequência. Grande Rei! Será este o meio de desenvolver o Comércio em Portugal, e de aí fazer florir as Artes e as Ciências?”.

Discours Pathétique au sujet des calamités presentes, arrivées en Portugal, 1756

 

 “Nunca eles [inquisidores] costumam aplicar a tortura, sem que ao pé esteja médico ou cirurgião, para indicar o momento em que o paciente chegou ao limite do sofrimento sensível e a sua vida corre perigo. Os próprios me confessaram as circunstâncias em que se dá a sua intervenção. Bem entendido, não é por estímulo de caridade ou humanidade que os chamam: mas sim, para que a presa, destinada a outras e outras torturas, lhes não escape pela morte”.

Le Chevalier d’Oliveyra brulé en Effigie comme Herétique (...), 1762

 

Pascoal José de Melo

 “Mandam-se castigar aqui todos os apóstatas sem diferença porque a respeito de todos se dá a mesma razão; mas, enquanto aos judeus quem souber a história da sua expulsão em Portugal não poderá deixar de enfurecer-se contra os procedimentos que com eles se praticaram por tantos séculos.

A causa do Judaísmo oculto em Portugal e Castela foi a ordem de expulsão dos Judeus e conversão forçada dos que cá ficaram. E isto se deve ao Édito de D. Manuel e ao seu zelo indiscreto e mal entendido cristã e politicamente falando. Portanto sendo as leis e o Estado a causa deste Judaísmo oculto deviam os Judeus ser mais brandamente tratados.

(…) O tolerantismo civil é um direito Majestático que todos reconhecem e que os nossos reis puseram em prática ao permitir sinagogas e mesquitas”.

Projeto de reforma Regimento da Inquisição de 1774

 

Alexandre Herculano

“Forcejámos para que fossem mais os documentos do que nós quem falasse: também cremos tê-lo obtido. (…) Na verdade, uma ou outra vez, o espectáculo da suprema depravação humana, impondo silêncio à voz tranquila da razão histórica, impeliu-nos a traduzir num brado de indignação as repugnâncias irreflexivas da consciência irritada. Mas este senão, se é senão, nunca poderá evitá-lo inteiramente o historiador que conservar os sentimentos do homem e tiver que estudar à luz dos documentos, infinitamente mais sinceros que os analistas, um ou diversos períodos da história do século XVI, daquele século corrupto e feroz (…)”.

História da Origem e Estabelecimento da Inquisição em Portugal, 1859

 

Antero de Quental

“Era o sentimento cristão, na sua expressão viva e humana, não formal e ininteligente: a caridade e a tolerância tinham um lugar mais alto do que a teologia dogmática. Essa tolerância pelos mouros e judeus, raças infelizes e tão meritórias, será sempre uma das glórias do sentimento cristão da Península Ibérica da Idade Média.

(…) Com a Inquisição, um terror invisível paira sobre a sociedade: a hipocrisia torna-se um vício nacional e necessário; a delação é uma virtude religiosa; a expulsão dos judeus e moiros empobrece as duas nações, paralisa o comércio e a indústria, e dá um golpe mortal na agricultura em todo o sul de Espanha; a perseguição dos cristãos-novos faz desaparecer os capitais; a Inquisição passa os mares, e, tornando-nos hostis os índios, impedindo a fusão dos conquistadores e dos conquistados, torna impossível o estabelecimento duma colonização sólida e duradoira; na América despovoa as Antilhas, apavora as populações indígenas, e faz do nome de cristão um símbolo de morte; o terror religioso, finalmente, corrompe o carácter nacional, e faz de duas nações generosas, hordas de fanáticos endurecidos, o horror da civilização.”

Causas da Decadência dos Povos Peninsulares, 1871

 

Senador Nunes da Mata

“O fim da proposta de lei é facilitar aos israelitas o ingresso nos Planaltos e mais territórios de Angola como colonos. Sob o ponto de vista do progresso e da riqueza da colónia, o resultado deve ser seguro, tendo em consideração os dotes de energia no trabalho e espírito de economia dos israelitas. Além da vantagem que deve resultar para a província de Angola, a proposta de lei representa um acto de justiça e de reparação para com uma raça que em todos os tempos tão perseguida tem sido e cuja expulsão em massa, em Dezembro de 1496, do território de Portugal, por D Manuel I e depois de 1532 por D. João III, pela ação maléfica da Inquisição, o trágico morticínio nas ruas e praças de Lisboa em Abril de 1506, constituem as nódoas mais negras de toda a história pátria. Esse êxodo dos israelitas, que foram levar as suas riquezas e actividades para a Bélgica, Holanda, Itália e Grécia, e outros países foi uma das causas principais da nossa decadência a partir do reinado de D. Manuel I. Os Israelitas foram vítimas às mãos da população instigada pelos frades. Por conseguinte, se o Senado der o seu voto à proposta de lei, presta um bom serviço à humanidade e a Pátria, e pratica um acto de reparação para com muitos descendentes dos israelitas que foram vítimas das crueldades dos nossos antepassados.”

Diário do Senado da República, 1 de maio de 1913

 

Ricardo Jorge

“A frase tantas vezes editada de que cada país tem os judeus que merece, não se ajusta, ousamos já dizê-lo, a Portugal que teve os judeus de que não era digno nem merecedor – porque o homem de nação, o marrano, era o que de melhor havia entre a nossa gente, e a esse escol inteligente, activo e culto espezinhamos-lhe a consciência na mais revoltante das violências, atirámo-lo execrandamente ao degredo, ao cárcere e à fogueira (…)”.

“Pró-Israel”, in Samuel Schwarz, Os Cristãos-Novos em Portugal no Século XX, 1925

 

Mário Soares, Presidente da República

“A Judiaria Medieval de Castelo de Vide testemunha a presença de judeus na nossa terra desde os mais recuados tempos da nacionalidade. Demonstra como os judeus foram um componente importante e deram um inestimável contributo para a nossa História.

Infelizmente o fanatismo religioso, com a introdução da Inquisição em Portugal, veio, ao arrepio da nossa melhor tradição, acentuar as perseguições aos judeus. A sua expulsão de Espanha e de Portugal, como ensinou Antero de Quental, constitui uma das causas principais da decadência dos povos peninsulares por vários séculos.

Toda esta zona ao longo da fronteira aqui, no Alto Alentejo, e mais para norte, até Bragança – está marcada pelos testemunhos, tão presentes ainda na tradição portuguesa, das perseguições que os judeus foram invariavelmente vítimas, ao longo dos tempos, quer do lado espanhol quer do português, sucessiva ou simultaneamente obrigando a conversões forçadas, queimando-os em autos-de-fé, compelindo ao exílio alguns dos melhores espíritos portugueses para o norte da Europa, onde tanto contribuíram para o progresso e desenvolvimento dos países que os acolheram.

(…) Na paisagem alentejana e nesta bela terra, a Judiaria ergue-se, desafiando os séculos, como um símbolo que desejamos que seja de tolerância, de fraternidade e de unidade essencial do género humano. É o sentido que dou ao acto ritual a que assistimos na Sinagoga e à minha presença aqui, honrando a mais bela tradição da história portuguesa.

Em nome de Portugal, peço perdão aos judeus pelas perseguições que sofreram na nossa terra.”

Castelo de Vide, 17 de março de 1989

 

Elias Lipiner

“A alegada fatalidade cronológica pela qual a Inquisição teria apenas usado das armas próprias de seu tempo, cede diante da existência, no mesmo período, de ideias de que derivaram factos históricos opostos. Era só escolher entre o bem e o mal, independentemente de qualquer fanatismo. Porventura, quando D. Manuel decretou a expulsão dos judeus do Reino, não se opuseram a ela energicamente várias personalidades do seu próprio tempo? E, quando ordenou a extinção de todas as sinagogas do Reino em nome da unidade cristã, porventura o próprio Papa, no mesmo período, não consentia que os judeus praticassem a sua fé nas casas de oração dos Estados pontifícios? E, quando o mesmo monarca ordenou o baptismo à força de seus súbditos judeus em todas as faixas etárias, não consignara ele próprio nas suas ordenações (L.º V, tít. 99) a proibição de baptizar contra a vontade os escravos da Guiné de idade acima de dez anos? E, finalmente, não convivem também em nosso tempo a razão e o fanatismo?”

Os Baptizados em Pé. Estudos acerca da origem e da luta dos cristãos-novos em Portugal, 1998

 

Papa João Paulo II

“Senhor, Deus de todos os homens, em determinadas épocas da história os cristãos cederam a métodos de intolerância e não seguiram o grande mandamento do amor, deturpando assim o rosto da Igreja, tua esposa. Tem misericórdia dos teus filhos pecadores e acolhe o nosso propósito de procurar a promoção a verdade na doçura da caridade, sabendo que a verdade não se impõe a não ser em virtude da própria verdade”.

12 de março de 2000

 

D. José Policarpo, Cardeal Patriarca de Lisboa

“Este centro histórico de Lisboa, onde hoje fraternalmente nos abraçamos, foi no passado palco de violências intoleráveis contra o povo hebreu. Nem devemos esquecer, neste lugar, a triste sorte dos «cristãos novos»: as pressões para se converterem, os motins, as suspeitas, as delações, os processos temíveis da Inquisição.

Como comunidade maioritária nesta cidade, há perto de mil anos, a Igreja Católica reconhece profundamente manchada a sua memória por esses gestos e palavras, tantas vezes praticados em seu nome, indignos da pessoa humana e do Evangelho que ela anuncia.”

26 de novembro de 2000

 

António Guterres, Secretário-Geral das Nações Unidas

Após condenar o antissemitismo, no Memorial do Holocausto, em Israel, disse: “O meu próprio país também o viveu. Recordo o momento mais trágico de todos: a expulsão dos judeus no início do século XVI.”

28 de agosto de 2017

 

 

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