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1º DIA DA MEMÓRIA DAS VÍTIMAS DA INQUISIÇÃO, LISBOA

TEATRO NACIONAL D. MARIA II, 31 DE MARÇO DE 2019

DIA DA MEMÓRIA DAS VÍTIMAS DA INQUISIÇÃO 2020

 

Hoje, 31 de março, é o Dia da Memória das Vítimas da Inquisição. Esta data foi escolhida pela Assembleia da República Portuguesa para resgatar a memória das vítimas daquele tribunal religioso, criado em 23 de maio de 1536, por ter sido extinto justamente no dia 31 de março de 1821 pelo Parlamento Liberal recém-criado.

Esta decisão surgiu na sequência de uma petição enviada à Assembleia da República em 2018 e assinada por 600 pessoas. A adoção deste dia é um passo importante para o reconhecimento dos erros do passado, que podiam ter sido evitados.

Quando D. Manuel I decretou a expulsão dos judeus em 1496, houve vozes que o alertaram para essa decisão errática, que outros reinos não estavam a cometer.

Quando o mesmo rei os forçou ao batismo no ano seguinte, tentando remediar o desastre económico que se adivinhava, houve vozes que disseram que não era possível transformar judeus em cristãos através da coação.

Quando D. João III tudo fez junto da Santa Sé para a introdução da Inquisição, incluindo o suborno do papa, houve vozes que se levantaram contra.

Quando os métodos da Inquisição portuguesa se tornaram mais violentos do que os da Espanha, houve vozes que recordaram que o próprio papa permitia a existência de judeus nos seus domínios.

Tivessem sido ouvidas essas vozes, e não teria havido expulsão de judeus e mouros, não teria havido batismo forçado, não teria havido milhares de desterrados da sua pátria, não teria havido famílias inteiras destruídas pela suspeição e pelo estigma, não teria havido o horror dos queimados nas fogueiras.

No fundo, houve sempre alguém que disse não, como diz o poeta. E era só escolher entre o bem e o mal, como dizia o historiador.

Celebremos, então, o Dia da Memória das Vítimas da Inquisição. Resgatemos a memória das vítimas do erro da introdução desse tribunal religioso, que foi o corolário dos erros do decreto de expulsão e do batismo forçado.

Contudo, ao adotar este dia, a Assembleia da República perdeu uma oportunidade para edificar um memorial a essas vítimas, como propunha a referida petição. Um dia por ano é simbólico no tempo, mas uma marca no espaço, por mais simples que seja, será perene para as gerações vindouras, tal como se fez em relação ao massacre judaico de Lisboa de 1506.

O Parlamento ainda vai a tempo de emendar a mão e aproveitar as cerimónias de evocação dos 200 anos da sua existência, edificando um memorial num local simbólico no próximo dia 31 de março de 2021, duplo centenário da extinção da Inquisição. Tal como a petição também sugeria, podia ser colocado frente ao Teatro Nacional D. Maria II, o local onde funcionou o Palácio dos Estaus, a sede da Inquisição de Lisboa, de onde saíram milhares de condenados para os autos-de-fé.

O Memorial Virtual às Vítimas da Inquisição que hoje lançamos não substitui o indispensável memorial físico, antes pretende ser um complemento deste, quiçá uma alavanca para a sua edificação.

​Jorge Martins

Lisboa, 31 de março de 2020

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