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Jorge Martins

A expulsão dos judeus na Crónica de D. Manuel, de Damião de Góis

"Capítulo XVIII

De como el-Rei mandou lançar os Mouros, e Judeus fora de seus Reinos, e Senhorios

(1ª parte)

Depois que os Reis de Castela lançaram os Judeus fora de seus reinos, e senhorios, como atrás fica dito, el-Rei dom Emanuel requerido por cartas dos mesmos Reis determinou de fazer o mesmo, mas como o negócio fosse de qualidade para se dele não tomar resolução, sem bom conselho, houve sobre isso vários pareceres, porque uns diziam que pois o Papa consentia esta gente em todas as terras da Igreja, permitindo-lhes viverem em sua lei, e que o mesmo faziam todos os Príncipes, e repúblicas de Itália, e Hungria, Boémia, e Polónia, o que se podia cuidar, que não faziam sem causa, a cuja imitação em toda a Alemanha, e outros reinos, e províncias de Cristãos os deixavam também viver, que causa haveria para os lançarem do reino, que não repugnasse com a razão que estas outras nações tinham para o consentirem, e que além disto por os lançarem da terra, nem por isso lhes davam azo de nas alheias se tornarem Cristãos, mas antes se se fossem para a dos mouros, se perdia de todo a esperança de nenhum se converter, o que muitos deles vivendo entre nós, movidos de nossa religião, e do bom uso dela se podia esperar que fizessem, e que havia ainda nisto outros inconvenientes, porque além dos serviços, e tributos que el-rei perdia, ficava obrigado a satisfazer às pessoas a que ele, e os Reis passados deles fizeram mercê, e que não tão somente levavam consigo da terra muitos haveres, e riquezas, mas ainda o que era mais de estimar, levavam subtis, e delicados espíritos com que saberiam dar aos mouros avisos, que lhes necessários fossem contra nós, e sobre tudo lhes ensinariam seus ofícios mecânicos, em que eram muito destros, principalmente no fazer das armas, do que se poderia seguir muito dano, trabalhos, e perdas, assim de gente, como de bens a toda a Cristandade. Este foi o parecer, e opinião dalguns do conselho (…)"


(Crónica do Felicíssimo Rei D. Emanuel, da gloriosa memória, Damião de Góis, Lisboa: Oficina De Miguel Manescal da Costa, 1749, p.17)

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